sábado, 2 de abril de 2011

Aécio impulsionado por DNA político, promete dura oposição

Veja.com  01/04/2011
\ Política & Cia

Impulsionado pelo DNA político, Aécio promete fazer oposição dura após 100 dias de Dilma


Na semana seguinte à próxima, que começa no dia 10, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), provável presidenciável tucano em 2014, anuncia um “discurso contundente” para celebrar o final da trégua de 100 dias que a oposição, em vários países, concede ao novo governo. “Vamos dar o sinal de largada para essa agenda propositiva de nosso partido, que será, ao mesmo tempo, uma agenda fiscalizadora dura”, avisou o senador no começo do mês passado.
O senador de frondosa mas não tão conhecida árvore genealógica na política — neto do presidente Tancredo Neves pelo lado da mãe, como todos sabem, mas também neto do importante político mineiro Tristão da Cunha por parte de pai e filho de um experiente deputado de oito mandatos, Aécio Cunha –, impulsionado pelo DNA, terá sua primeira participação de peso desde que assumiu a cadeira no Senado, a 1º de fevereiro passado. E seu foco, que ele naturalmente não proclama, é ter visibilidade nacional como a grande estrela da oposição.
Estofo para isso não se pode negar a Aécio. Ele desempenhou um importante papel como presidente da Câmara dos Deputados no biênio 2001-2002 quando, entre outras ações importantes, articulou o fim da execrável imunidade parlamentar para todo tipo de ilícitos, mesmo crimes graves — a imunidade, hoje, se refere apenas e exclusivamente a atos praticados pelos parlamentares no exercício do mandato. Depois disso, teve um governo muito bem avaliado em Minas Gerais (2003-2010).
A política veio do berço
Mas o ex-presidente da Câmara dos Deputados e duas vezes governador de Minas Gerais não aprendeu política apenas com o avô, o presidente Tancredo Neves. Ela lhe veio literalmente do berço, com o pai, Aécio Cunha, falecido justamente no dia 3 de outubro de 2010, domingo, dia que consagraria a espetacular vitória eleitoral do filho. eleito senador com votação recorde no Estado.
Aécio Neves, ainda criança, com a irmã mais velha, Andrea, e os pais, Aécio Cunha e Inês Maria Tolentino Neves, no batizado da caçula, Ângela
Aécio Ferreira da Cunha morreria em Belo Horizonte, aos 83 anos, em consequência de falência hepática, sem tempo de comemorar o sucesso do Aécio filho, que, além da própria vitória, elegeu o sucessor, o governador Antonio Anastasia, e o segundo senador por Minas, o ex-presidente Itamar Franco (PPS).
Com sua partida, Aécio perdeu também um grande conselheiro político. Aécio Cunha, cujo primeiro dos dois casamentos seria com Inês Maria, filha de Tancredo, percorreu uma longa carreira política: exerceu dois mandatos de deputado estadual em Minas e nada menos do que seis de deputado federal, em Brasília.
O pai, deputado influente
Fechou a carreira pública, em 1987, com um belo gesto: nomeado ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) pelo então presidente José Sarney, renunciou à mordomia vitalícia antes de tomar posse.
Não se conformou com o silêncio do presidente diante de rumores, espalhados pelo governador Newton Cardoso (PMDB), adversário do filho, segundo os quais Aécio Neves deixaria de apoiar o candidato tucano à Prefeitura de Belo Horizonte em troca da nomeação do pai.
Gesto não apenas belo, mas sobretudo raríssimo: é o único caso registrado nos 119 anos de história do TCU.
Fisicamente um pouco mais baixo mas, quando mais jovem, quase um retrato de Aécio Neves, Aécio Cunha não tinha o desalinho chique do filho: sempre em ternos formais, cabelos divididos e rigorosamente penteados, era um daqueles deputados que dispunham de grande habilidade e boa dose de influência, que, contudo, não exibia.
Trabalhava duro nas comissões, chegou duas vezes a ser o relator do Orçamento-Geral da União e exercia a política em silêncio, fazendo jus às raízes mineiras e ao aprendizado que, por sua vez, lhe propiciou em casa o próprio pai, avô paterno de Aécio Neves.
O outro avô foi quatro vezes deputado e trabalhou com JK
Tristão da Cunha, o outro avô de Aécio, foi um dos signatários do famoso “Manifesto dos Mineiros”, que prenunciou, em 1943, a derrubada de Getúlio Vargas, quatro vezes deputado federal pelo velho PR (Partido Republicano), ex-secretário de Estado de três governadores mineiros, inclusive Juscelino Kubitschek, e, durante dez anos, presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), órgão destinado a preservar a concorrência empresarial.
O filho de Tristão e pai de Aécio Neves, Aécio Cunha, militou, desde o início da carreira, no mesmo partido de Tristão, o PR que surgiu em 1945 do velho Partido Republicano Mineiro (PRM), fundado para combater a monarquia em 1888 e, mais tarde, feudo político do presidente Arthur Bernardes (1922-1926). O PR, enquanto existiu, até a extinção dos partidos políticos pelo regime militar, em 1965, era essencialmente mineiro e, no estado, exercia a característica de partido pendular, que decidia as coisas entre o PSD e a União Democrática Nacional (UDN).
Aécio pai com Aécio filho
Em 1965, extintos os partidos surgidos na redemocratização do país, vinte anos antes, filiou-se à sigla criada pelo regime militar, a Arena e, mais tarde, a seu sucedâneo, o PDS. Isso nunca o impediu de manter uma convivência intensa com o sogro, e depois ex-sogro, Tancredo, um dos cardeais do MDB. Na Câmara, costumava visitar com frequência o modesto gabinete do futuro presidente.
Conservador moderado, governista relutante, não por acaso juntou-se no finzinho de 1984 à Frente Liberal, formada por dissidentes do PDS que se juntaram ao PMDB na Aliança Democrática, elegeram Tancredo presidente e liquidaram o regime militar.
O pai de Aécio Neves passou boa parte dos últimos anos refugiado em sua fazenda na Teófilo Otoni natal com a segunda mulher, Sônia Maria Bastos, mas gostava da companhia dos filhos – além de Aécio, as irmãs Andrea e Ângela.
Muito afetuoso com o filho, de quem tinha grande orgulho, certa vez, modesto, confidenciou a amigos:
– Ele é muito melhor do que eu fui.

Revista Veja / Coluna de Ricardo  Setti

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