sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Aécio começa a jogar!

Coluna do Noblat
Ao anunciar nesta quarta-feira o secretariado de seu novo governo, que começa dia primeiro, o governador reeleito de Minas, Antônio Anastasia, não conseguiu evitar a impressão digital do ex-governador e agora senador eleito, Aécio Neves, na escolha dos nomes e na composição político-partidária que lhe dará sustentação na Assembléia Legislativa. São dez deputados, num total de 22 secretarias, algumas criadas para a ocasião, que representam nada menos de 19 dos 23 partidos que têm representantes no legislativo mineiro. Sobraram para fazer oposição o PT e o PC do B, além da metade da bancada de seis deputados do PMDB. Somando todos, serão 16 oposicionistas no meio de 61 governistas. Haja ânimo!
Ao se examinar com acuidade o novo secretariado é que se observa o dedo de Aécio como a guiar mão de Anastasia nessa verdadeira obra de engenharia política. Ele pinçou com a sutileza de relojoeiro, nome por nome, de tal forma que cada secretário com mandato parlamentar, ao ser escolhido, abre vaga para um colega que não se reelegeu ou para um outro que estréia na vida pública, dando a Anastasia essa folgada maioria na Assembléia e a Aécio a abertura para entendimentos com as legendas às quais pertencem – 19, não custa repetir.
O melhor exemplo dessa costura está no deputado estadual Wander Borges, presidente do PSB mineiro, prestes a perder o comando da sigla para o prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda. Wander será secretário de Desenvolvimento Social graças à interferência a seu favor do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, após amável conversa com Aécio – por coincidência no período em que Eduardo levava de Minas um terço do investimento de R$ 10 bilhões que a Fiat faria no Estado, dinheiro este que será aplicado pela montadora italiana numa fabrica de carros em Pernambuco.
Assim como se diz que Lula montou boa parte do ministério de Dilma de olho em 2014, em Minas pode-se dizer o mesmo de Aécio em relação ao secretariado de Antônio Anastasia, sem qualquer desdouro para o governador, que joga afinadíssimo com seu antecessor. Como novidades desse novo secretariado, o retorno da ex-ministra Dorothéa Werneck à vida pública, como secretária de Desenvolvimento Econômico, e do deputado Edmar Moreira à Câmara Federal – o deputado do castelo, lembram? – que volta à Câmara na vaga do deputado Bilac Pinto (PR), guindado também ao secretariado mineiro.
Ninguém em Minas tem dúvida de que Aécio começou a jogar, dando o pontapé inicial nessa costura a que se dá o nome de “unidade mineira”, tal qual fez o avô em 82 ao assumir o governo do estado.

Carlos Lindenberg é comentarista político do jornal Hoje em Dia, da revista Viver Brasil e da Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte.

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